Ontem o Neymar não jogou um jogo decisivo por um desconforto. Ora, esse post parece ser temporal e só valer para o dia de hoje, mas na verdade essa frase não é tão incomum. Quantas vezes Neymar já deixou de jogar jogos decisivos por lesões, desconfortos, condição física, etc.? Veja a tabela abaixo:
Chama muita atenção a quantidade de dias que o craque brasileiro ficou fora de atividade por lesões nos últimos 8 anos, sem contar com a fatídica lesão na coluna no jogo das quartas de final da copa de 2014 contra a Colômbia, culminando no 7 a 1 em pleno território brasileiro nas semis.
Tá, que o Neymar se lesiona muito já deu pra entender, mas o histórico foi necessário para ficarmos na mesma página. Agora vamos falar o marketing.
Neymar é o maior jogador brasileiro da sua geração
Isso é unanimidade! Você pode não gostar do Neymar porque ele é cai cai, pode não gostar pela imagem que ele passa, porque ele é um ser humano ruim, porque é mulherengo, porque não ficou com a Marquezine ou porque fez campanha pro Bolsonaro, mas negar que ele é o maior craque brasileiro da sua geração é só birra ou não entender absolutamente nada de futebol.
Entender isso é importante para começar a entender como a imagem do Neymar atrapalha a sua grandeza técnica.
Além das suas próprias atitudes, tem um grande fator de comparação aqui que nos impede de enxergar aquilo que o jogador é. Um não, dois: Messi e Cristiano Ronaldo.
Por um lado um argentino humilde, que fez carreira no Barcelona e é um gênio incontestável. Do outro lado um português obstinado em ser o melhor. Ambos disputando cabeça a cabeça, ano a ano, para ser o melhor do mundo e, ao mesmo tempo, inspirando pessoas por diversos motivos.
Essa comparação afeta muito o Neymar que é um craque, porém sem humildade, sem obstinação, sem disciplina e sem inspirar confiança naqueles que esperam a decisão por parte dele quanto mais precisam.
Neymar nasceu na época errada?
Não foram só as comparações que atrapalharam a imagem do craque. Neymar talvez não tenha sido devidamente assessorado ou é apenas um rebelde sem causa que não segue qualquer assessoria. Ou ainda, talvez ele tenha apenas os ídolos errados para a sua época.
Romário foi muito falador, nunca demonstrou qualquer humildade, sempre foi mulherengo, tem diversas polêmicas em torno do seu nome.
Romário também acabou por fazer tudo o que falou e talvez isso o tenha “inocentado”. Ao invés de arrogante, ele saiu como “o cara”. Ele falava e fazia. Ele trouxe uma copa “sozinho” para o Brasil com uma geração relativamente fraca se comparada a outras. O baixinho de fato fez o seu marketing e cumpriu, consegue entender a diferença aqui?
O marketing do Romário era ser “o cara” e ele foi. Ele foi o cara na copa, ele fez mil gols, ele disse que daria caneta no Maradona e deu, ele disse que faria 3 gols e sairia para curtir, ele fez. Existem diversas histórias onde o baixinho deu a cara a tapa e de fato foi o cara.
Marketing só funciona quando você entrega aquilo que promete ou que a sua imagem passa.
O mesmo paralelo podemos fazer com o Ronaldo Fenômeno, com Ronaldinho Gaúcho e outros craques brasileiros. Todos eles foram respeitados, inclusive por adversários, aplaudidos, ganharam copas, voltaram para o Brasil aclamados e, ainda que acima do peso ou fora de forma, fizeram a diferença e ganharam títulos com seus times.
Se esses craques tivessem jogando no auge em tempos de internet, Twitter e cancelamento, será que “sobreviveriam” ao julgo popular ainda que conquistando o que conquistaram? Ou será que se o Neymar ganhasse uma Copa do Mundo ele pararia de ser questionado?
Carnaval, festas e decisões.
Não basta ser, você tem que parecer ser.
Eu não sei se essa frase tem alguma autoria, mas já encaminhando o raciocínio para o final, ela mostra exatamente o aprendizado que o Neymar pode nos trazer sobre marketing.
O problema que eu identifico da carreira versos a vida pessoal do Neymar, é que ele nunca se preocupou com o que ele representa, com o que a sua marca representa.
Não é unânime, mas acredito que a maioria dos profissionais esportivos concordam que o auge da carreira do Neymar foi no Barcelona. Mesmo assim, ele saiu no auge de sua carreira até ali para ir ao PSG, creio eu, procurando protagonismo, pois no Barça ele ficaria na sombra do Messi.
Teve os dois primeiros anos muito bons, mas as polêmicas não demoraram a chegar. No PSG ele acumulou lesões próximas a jogos decisivos, inclusive de Champions League, assim como tinha acontecido na copa de 2014.
Isso acabou causando desconfiança nas pessoas sobre as próprias lesões.
Apesar de ser improvável que um nome tão importante e conhecido mundialmente consiga fingir lesões seguidas em jogos decisivos, ainda tínhamos mais fatores acumulando polêmica.
Mesmo não estando bem fisicamente, ele aparecia em festas, em carnaval, dançando, e isso foi aumentando a desconfiança.
Ele não parecia lesionado para as pessoas, entende? O que jogava muito contra a sua imagem, a sua marca.
Neymar prometeu e não entregou
Ontem dia 10 de março, não foi diferente. Jogo contra o Corinthians na semifinal do paulista, Neymar promoveu o jogo, provocou na esportiva, disse que seu adversário que precisava temê-lo e não o contrário. Porém, tinha uma carnaval no meio do caminho.
No último jogo dele contra o RB nas quartas de final, dia 02 de março, saiu no segundo tempo sentindo um desconforto na coxa. O Santos disse que não teve lesão, apenas um desconforto. Ok. Neymar foi para a Sapucaí e virou a noite no Carnaval Carioca. Chegou o dia do jogo contra o Corinthians e ele simplesmente não entrou.
Os críticos ferrenhos tiveram sua munição, pois ele repetiu a receita para receber as críticas. Os defensores já não tem mais cara para defender. Será que só uma copa do mundo salvaria o seu marketing agora?
Não sei, só sei que Neymar continua fazendo o que dá na sua cabeça, como um menino como sempre o chamaram, sem se importar com as consequências.
Custava ter ficado em casa somente esse Carnaval? Dormir bem, se alimentar direitinho, fazer uma recuperação desse “desconforto” para ao menos ser opção para o segundo tempo? Aparentemente, para ele, sim, custava muito.
Marca não vive só do passado e da qualidade hoje em dia
Eu recebo muitos clientes aqui na agência dizendo que são muito bons no que fazem, que são melhores que os concorrentes, que têm mais qualidade, que foram os primeiros a fazer o que fazem e que não entendem como o concorrente está à frente.
Bem, essa é basicamente a visão que o fã do Neymar tem.
Eles nunca vão entender o porquê o menino Ney que eles viram jogar no Santos, no Barcelona, nas Olimpíadas e que encantou o mundo, está há 8 anos sem conseguir entregar aquilo que realmente está prometendo entregar.
Se tornar fã da sua marca e ouvir somente os fãs da sua marca pode te cegar para pontos de melhoria. Não sei se é o caso do Neymar, pois ele é a própria marca, mas pode ser o seu caso para não evoluir.
Muitas empresas não evoluem porque criam crenças e ficam repetindo atitudes que acabam prejudicando a própria marca e ficando para trás diante da concorrência.
Enquanto outras empresas, na sua visão, piores que você, estão aparecendo na internet e trabalhando suas marcas, você continua centralizando ações ao invés de se pautar na realidade, na opinião do seu público e fazendo aquilo que você acredita ser o melhor, torcendo para um dia ser “campeão do mundo” com essas atitudes, calando tudo e todos.
Pode ser que você consiga, mas o caminho costuma ser mais fácil quando nos pautamos em dados e realidade.
É mais fácil ter um físico bom e competitivo sem se esbaldar em festas por aí, mesmo sendo craque. É mais fácil ter sucesso nas vendas tendo um processo que pessoas medianas conseguem seguir, mesmo você vendendo muito bem.
Meu nome é Tiago Oliveira, sou só mais uma criança frustrada que quis ser jogador de futebol e acabou sendo um profissional de marketing, então o que me resta é fazer analogias com o Ney para ganhar audiência.
