Aposto que você já teve contato com algum guru da internet vendendo uma fórmula no digital. Seja a famosa fórmula de lançamento, seja uma fórmula de ganhar dinheiro rápido ou uma fórmula secreta que nunca foi revelada e você deu sorte de encontrar com aquele anúncio, naquele momento, para revelar.
Eu sei, esse papinho é bem conhecido.
E parece que não importa qual seja o ramo, o papo é sempre o mesmo. Daria até para dizer que foi a mesma pessoa que escreveu ou que realmente estão usando uma fórmula pronta.
Aí você compra, se frustra e coloca a culpa em quem vendeu. Ou pior, quem vendeu coloca a culpa em você e te faz comprar outro produto dele para resolver a sua culpa.
Afinal, se o Cristiano que entrega receitas de bolo para festa infantil em documentos Word conseguiu aplicar a fórmula para vender e ficar rico, por que você não conseguiu? A culpa só pode ser sua. Você não está pronto, não fez o suficiente, não entendeu… toma outro curso!
Calma, vamos desvendar o porquê isso acontece e tentar entender quem nasceu primeiro, o vendedor de fórmulas ou o comprador de fórmulas.
Se continuam vendendo é porque continuam comprando
Quem já ouviu a frase: “Tostines é fresquinho porque vende mais ou vende mais porque é fresquinho”?
Pois é, não importa no fim das contas a relação causa e efeito, vender facilidade, vender benefício, criar problema para vender solução é a lógica da jornada de compra.
Ninguém acorda e do nada surge um problema na cabeça. As pessoas passam por alguma dificuldade ou tem algum desejo e aí sim começam a procurar uma forma de resolver.
A grande questão aqui é que hoje em dia os vendedores tem muitas ferramentas na mão para criar problemas na sua cabeça que na maioria das vezes nem é de fato um problema.
Voltando para o exemplo da Tostines, o que importa saber o motivo pelo qual ela vende mais? Na verdade nada, a marca apenas quer te passar a mensagem que ela é fresquinha e é a mais vendida.
Isso é suficiente para você criar um dilema na sua cabeça na hora de comprar uma simples bolacha: se eu comprar outra bolacha, será que vai ser fresquinha igual a Tostines? Outro dilema, se é a que mais vende, eu vou ser do contra e arriscar comprar outra?
Percebe que antes dessa frase provavelmente você nunca comprou uma simples bolacha pensando se ela está fresquinha?
Agora potencializa esses problemas inexistentes para a rede social onde somos bombardeadas de informações.
Exato! Agora você entendeu porque continuam vendendo, porque você entra nesse funil e acaba comprando no final.
As redes sociais e a comparação
Deixei um tópico exclusivo para falar especificamente do item de comparação e você vai entender o motivo.
Nosso cérebro é naturalmente comparativo e os vendedores no digital sabem exatamente como utilizar isso.
Meus pais, avós, eles não tinha muito com o que se compararem a não ser seus próprios familiares, seus vizinhos e amigos próximos. Suas ambições eram determinadas por aquilo que viam ao seu redor, depois no rádio, depois na TV.
Com isso os objetos de desejo foram mudando. A necessidade de viajar, por exemplo, só vem se você sabe que existe um outro lugar. A necessidade de comprar uma roupa nova, só vem se alguém diz pra você que existe uma nova tendência, que você está fora de moda, que as pessoas vão parar de te enxergar como alguém interessante.
Agora, de onde surgiu a necessidade de ganhar muito dinheiro de forma rápida? Sim, a internet que acabou trazendo isso.
Quando uma pessoa trilhou um caminho para chegar em vários dígitos de faturamento e resolver pegar toda sua trajetória compilando em 2h de curso para que você também consiga, parece realmente muito atrativo.
Mas o que essa pessoa faz aqui? Ela compara você ao sucesso que ela teve, se colocando como alguém comum, para gerar identificação, e dizendo que você também pode fazer.
Multiplica em várias vezes injetando grana em anúncios, pronto. Temos mais uma fórmula. Tudo baseado na comparação.
De repente, fazer uma carreira já não serve mais. Estudar para ganhar uma promoção está ultrapassado. O negócio é ser rico na internet porque o Alex do Perpétuo tem uma fórmula e vários depoimentos de alunos que também conseguiram.
Como mudar esse comportamento
Diante de um cenário de educação brasileira cada vez mais sucateada e com a evolução das informações rápidas de 90, 60, 30, 15 segundos trazendo verdade absolutas, fica cada vez mais difícil.
Esse comportamento do saber de tudo por consumir conteúdos de Tiktok está se inserindo em todas as áreas. Assim como a simplificação das mensagens tem sido tendência nas escolas, na arte, nas músicas…
As pessoas não querem mais procurar coisas complexas, contraditório, entendimento de verdade. No geral, querem procurar apenas um viés de confirmação da sua própria crença.
Se eu acredito que a terra é plana, eu vou encontrar centenas de pessoas e materiais com as teorias mais absurdas para confirmação minha crença. Se eu acredito que criado mudo é um termo racista, eu vou achar artigos e pessoas que defendam minha tese.
Percebe? A verdade não importa mais. O que importa hoje em dia são as narrativas, a história que é contada dentro da bolha que aquilo atinge.
Com a inserção da Inteligência Artificial na brincadeira e o poder de propagação de narrativas, verdadeiras ou falsas, fica ainda mais difícil pensar em uma mudança.
A solução, então, é cada um começar a se conscientizar e usar o algoritmo, as estratégias dos vendedores, dos políticas, da mídia, seja de quem for, ao seu favor.
No fim, a culpa das fórmulas no digital é de quem compra
Para fechar, vou deixar questionamentos para você que vai comprar cursos, ideias, narrativas, histórias e crenças daqui em diante.
Suponhamos que você encontrou uma fórmula no digital que você acredita que consegue aplicar, que viu depoimentos, que parece confiável:
- Já pesquisou no reclame aqui?
- Já confirmou a avaliação desse curso nas plataformas de vendas?
- Já conversou com pelos menos 10 pessoas que compraram o curso há mais de 1 ano?
- Já avaliou se os depoimentos são recentes?
- Já avaliou quantos % das pessoas que compraram realmente tiveram sucesso?
- Você tem tempo para estudar aquilo que está comprando?
- Você tem tempo ou consegue se organizar para aplicar o que está sendo proposto?
- Isso está dentro da sua lista de prioridades de afazeres?
- Se é uma fórmula, já tentou conversar com quem aplicou a fórmula e não conseguiu?
Percebe quantos questionamentos nós deixamos de fazer e acabamos comprando na emoção, confiando cegamente no que está sendo falado? Pois é.Aplique também esse nível de desconfiança para o que você houve por aí, para o que você for compartilhar, para a “informação” que trazem até você, para teorias que são apresentadas.
Principalmente se a teoria confirma um viés de crença que você já tinha, aí você deve desconfiar ainda mais! O perigo de ser levado a tomar atitudes e cair em golpes quando já temos uma tendência a acreditar naquilo é enorme, pois somos levados pela ganância.
Acredite, não vão parar de tentar vender, não vão parar de criar o caos para vender o sossego, não vão parar de criar desordem para vender organização e não vão parar de criar conflito para vender paz.
Cabe a você saber fugir disso, ainda que vá cair de vez em quando. A fórmula do sucesso é e sempre vai ser trabalho, constância, consistência, excelência, fazer mais, fazer melhor, se destacar… e para isso não tem passo a passo.

Meu nome é Tiago Oliveira, sou sócio e consultor na agência Oceaning que é totalmente contra fórmulas no trabalho de marketing. Existe planejamento, processo, trabalho e análise, o resto é narrativa #ficaadica